A angústia lacaniana e a hipermodernidade

Retomemos O seminário - Livro X: A angústia, de Jacques Lacan, na perspectiva de leitura que Jacques-Alain Miller introduz nas seis últimas aulas do seu curso da Orientação Lacaniana de 2003-4.

Podemos dizer que há, no Seminário X, primariamente uma angústia transfenomênica, constituinte, cujo paradigma é a angústia do nascimento, que produz, de um modo “quase natural”, órgãos de gozo, cortando, separando e fragmentando o gozo maciço de das Ding. 


A angústia que produz órgãos de gozo, a angústia transfenomênica, a angustia constituinte, é primária em relação à intervenção secundária do Outro do significante e da imagem especular na qual se identifica o sujeito. Esta angústia não põe em função a ameaça do pai como agente da castração, ligando essa ameaça à ausência do órgão fálico na mulher. Por isso, esta angústia não pode ser confundida com a angústia de castração que Lacan, nos primeiros seminários, e numa perspectiva freudiana, articula com o complexo de Édipo. O corte, a separação destes objetos se produz por fora da problemática edípica. 

Os órgãos de gozo que a angústia produz não são órgãos do corpo imaginário que a fase do espelho institui. O corpo que esta fase introduz é uma unidade imaginária e, como tal, carece da divisão que todo organismo impõe. Tampouco são os órgãos simbólicos que a bateria significante produz ao elevar o corpo do vivo aos valores da estrutura. Estes órgãos são anteriores, invisíveis e irredutíveis ao campo do Outro, a esse campo em que a imagem especular e os objetos de nosso mundo (que nossa imagem veste) advêm, e também em que se encontram as coordenadas simbólicas que significam a nossa imagem e criam a ilusão de objetividade nas nossas “relações de objeto”. 

Por não formar parte do campo do Outro, por não ser imaginários, nem simbólicos, estes órgãos têm uma “estrutura” real e formam parte do corpo erógeno que “regula” a economia de satisfação do sujeito falante. Mas uma vez que estes objetos de gozo resistem à assimilação significante, eles resistem, ao mesmo tempo, a ser tratados por Lacan pela via do conceito. Impossibilitada esta via, só resta ao psicanalista francês indicá-los, designá-los por uma letra que os torne operatórios e lhe permita articulá-los com a sua álgebra. Na falta do conceito, a letra que Lacan utiliza para designar o órgão de gozo é a letra a; ele é, assim, nomeado objeto a.

Não podemos esquecer que a função do objeto em psicanálise é anterior à formalização lacaniana do objeto a. Nesta tradição, a série de objetos (oral-analgenital) se ordena numa seqüência cronológica que destaca uma série de estágios ou fases de evolução da libido. Estes estágios, por sua vez, ganham sentido e valor a partir do ponto de basta que introduz o complexo de Édipo-Castração.

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