Modernidade, pós-modernidade e hipermodernidade

Vocês talvez se perguntarão sobre o que pode dizer um psicanalista acerca de um tema tão vasto, tanto de uma perspectiva teórica quanto de uma perspectiva temporal, como é a reflexão sobre a modernidade, a pós-modernidade e a hiper-modernidade. Vocês talvez se perguntarão, também, que importância tem esse tema para a psicanálise, para a teoria de uma prática quase solitária, que se limita a um encontro, marcado com certa regularidade, entre o analista e o analisando, seu paciente.


Para responder a estas perguntas, que, suponho, são as de vocês, comecemos por lembrar que, para Lacan, existe uma descontinuidade entre a episteme do mundo grego e a emergência, nos séculos XVI e XVII, da ciência no sentido moderno. A possibilidade desta descontinuidade entre a episteme do mundo antigo e a do mundo moderno é dada pela singularidade do monoteísmo judaico-cristão. Seguindo as posições epistemológicas de Koyré e Kojève, Lacan pensa que a ciência moderna só é possível num “contexto religioso no qual se propôs algo totalmente novo e singular: a criação do mundo ex-nihilo por um grande Outro divino”. Esta criação exnihilo, aventada pelo discurso da religião, permitiu aos cientistas dos séculos XVI e XVII não só confiar que na experiência natural se possam encontrar as marcas de uma lógica divina, como também que estas marcas estejam escritas, como dizia Galileu, em caracteres matemáticos. Portanto, o corte que inaugura a ciência no sentido moderno se carateriza por pensar que há, na natureza, um saber articulado segundo leis matemáticas. Este saber no real, esta rede organizada de significantes no real, além de determinar este último, opera independentemente do conhecimento que podamos ter dele.

Este corte tem como marcos, por um lado, a emergência da física matemática nos séculos XVI e XVII, com Galileu e Newton, e por outro lado a invenção do sujeito como “correlato essencial da ciência [...] inaugurado por Descartes e que se chamou seu cogito”. Para Lacan, este é também o sujeito da psicanálise.  Outro marco do corte entre a episteme do mundo moderno e a episteme do mundo antigo, além da ciência no sentido moderno e o seu sujeito, é a relação que Descartes estabelece entre a ciência moderna e o discurso do mestre. Como diz J.-A. Miller, “Descartes determinou que o resultado, o produto do discurso da ciência, o saber científico, seja posto ao serviço do discurso do mestre”.

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